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domingo, 24 de outubro de 2010

Algumas Memórias

Minha conversão - parte I
Na mesinha do rádio...

           
            Desde a adolescência quando lia a bíblia, principalmente os evangelhos, eu sentia um desejo enorme de tê-la como o referencial para minha vida; até sonhava para um dia quando tivesse minha família reuni-la em torno da mesma e anunciar: “nós vamos viver conforme o que está escrito aqui...”
            Naquela época eu não conhecia a igreja do Senhor e a crente nenhum, salvo somente por chamarem de crente à minha vizinha e o filho dela; o que eu desconhecia a razão e o porquê.

  
  



           Morávamos num sítio. Meu pai era agricultor. Lembro que pouco antes da hora do almoço ele chegava em casa, assentava-se em sua cadeira preguiçosa, ouvia as notícias no seu rádio antigo (e a pilhas, pois nessa época era luz de candeeiro), e a crônica de um padre__ e ali mesmo também lia a bíblia.
          Meu pai nunca foi crente, embora tenha sido o responsável indireto pela minha conversão.
           Não sei explicar a razão de meu interesse, todavia nos poucos instantes em que ele saía para almoçar que deixava a bíblia na mesinha do rádio, eu, em vez de seguir junto, aproveitava sua ausência, sentava em sua cadeira e passava a lê-la. Com muito cuidado (hoje percebo que o sagrado para muitos está mais na estética que no seu conteúdo, e era assim para meu pai, que tinha muitíssimo zelo com suas bíblias)!
           Com o crescente interesse tive coragem e pedi para levá-la comigo pro meu quarto; sem entender o motivo e com muitas recomendações ele me deixou levar: que emoção!
 Adorava ler Deuteronômio, mas às vezes me perdia dele e caia em Sabedorias e Eclesiastos. Só depois de muito tempo percebi que aqueles livros basicamente eram uma compilação do Deuteronômio e Provérbios.

  Hoje observando alguns que não se achegam a Deus em submissão, sujeição e fé através de sua palavra, percebo o quanto fui feliz pela fé que ele me reservou, de crer e amá-la imensamente. Essa fé e amor eram tanta que hoje nem sei como era possível: até a leitura das Leis me era aprazível!

  Na cidade, onde passava a semana devido a escola, eu tinha uma bíblia de bolso daquelas pequeninas que toda casa tem de distribuição gratuita: Novo Testamento, Salmos e Provérbios. Quanto choro ao terminar a leitura do evangelho de Mateus: “por que o mataram? Ele poderia estar vivo ainda hoje, e eu iria segui-lo onde ele fosse”!

              Só depois de muitos anos é que pude ter a enorme alegria de constatar com minha fé e enxergar com meu coração que ele está VIVO, que ele é vivo: ELE VIVE!

              Aos meus dezoito anos me encontrava em São Paulo, e um dia ouvi de uma jovem que, o Papa teria muito do que prestar conta se não se arrependesse... Fiquei curiosíssima, mas ela estava mais a fim de paquerar e não me explicou nada, apenas me sugeriu que eu fosse à igreja tal. Não fui!            
            De volta à minha cidade, agora aos meus vinte e dois anos, aconteceu de um dia a turma da escola fazer uma peça teatral e o salão usado foi o paroquial da igreja católica; e enquanto todos pegavam os bancos da igreja para o salão, o filho de minha antiga vizinha se recusava terminantemente entrar no templo; depois daquela noite insisti para que me dissesse o motivo, mas ele se recusou me falar. 
           Passados dois anos e finalmente em SP novamente, fiz amizade com um adolescente num cursinho pré-vestibular, e ele era crente. 
            Vinda do interior nordestino, cautelosa, era muito difícil me enturmar com uma moçada de um comportamento típico da cidade grande. O Oxler era o tipo de amizade que eu já tinha na minha cidade, um rapaz sério, calmo, responsável, amigo, etc. Ele sempre me convidava a ir ao templo de sua igreja; eu não me sentia a vontade para atender o convite indo sozinha, também teria de ser a pé, era contramão para o ônibus, e ficava há meia hora, à noite...
            Num sábado, dia do curso, o Oxler passou mal; no domingo fui até  a igreja na esperança de encontrar alguém que me desse notícias dele; mas lá ele estava, e comigo já ali foi fácil me convencer ficar.                                    

             Encontrei-me exatamente com aquilo que amava: a palavra de Deus! Fiquei encantada ao ver que todos ali acompanhavam cada leitura com a sua própria bíblia, outros fazendo anotações em agendas... 
            Fui muito bem recebida por todos na Comunidade da Graça, e adotada como filha pela família do jovem Oxler.
            No início sem nenhum entendimento ainda, e como estava decidida por encontrar Deus definitivamente, eu saía de casa cedo, às seis horas, passava alguns minutos na católica, que ficava próxima à minha casa, e depois seguia para a Comunidade, porque lá o culto começava mais tarde. Oxler sabia disso, mas nada me falou. No dia em que ouvi sobre a idolatria o questionei, e cobrei dele ter me mantido na mentira podendo ter me falado a verdade... Ele julgou fazer por sabedoria!
             Nem toda a atenção que tiveram comigo ao me receberem fez que eu amasse a denominação mais do que a palavra de Deus; e um dia ouvi alguém falar da existência do dom da profecia, além do dom de língua que lá havia, e que Deus ainda hoje falava diretamente com  o homem através de um profeta. Perguntei sobre o assunto a uma jovem, mas ela me enrolou e não respondeu, apenas lamentou que não tivesse escola bíblica dominical... Fiquei quieta. Até que um dia quando ia subindo para o templo da Comunidade eu conheci um irmão que morava não muito distante de minha casa, ele era pentecostal e estava indo ao templo de sua igreja também; subimos juntos conversando, e ele me convidou a ir conhecer sua denominação.
             De mim mesmo, creio, eu me sentia incomodada usando minhas roupas, embora nem fossem indecentes, eram simplesmente comuns; mas lembro que, quando sonhava viver conforme a palavra de Deus, também me imaginava usando roupas quase ao estilo das muçulmanas. Hoje rio disso. E embora considere algo bonito de se imaginar, não condiz com a maneira como tal vestiário é imposto, principalmente quando se apóia nas Leis e não na consciência individual para torná-lo indispensável à santidade e a pureza.
              Fui até ao templo da denominação do irmão Gilberto. E voltei lá outras vezes. Por fim, falei com um dos pastores comunicando minha saída. Ele lamentou que eu não tivesse tido nenhuma explicação sobre os dons, e que já estivesse decidida; e sua esposa que acompanhou nossa conversa deu testemunho de falsas profecias tentando me persuadir...
                Passei pouco mais de um ano na Comunidade da Graça.






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